segunda-feira, 23 de julho de 2007

Auguste Renoir – Arte sem poluição

Em 1868, há 139 anos, Auguste Renoir, pintor francês, pintou um quadro chamado “Le pont des Arts et Institute” (A ponte das Artes e Instituto). A obra é linda. É uma manhã de luz. A claridade da atmosfera desse quadro chamou minha atenção. Como gostaria de estar ali naquela cena. São pessoas simples, andando de lá para cá, em agitação cotidiana. Olhei o céu. As nuvens vêm de longe, se aproximando...parece que vão sair do quadro em nossa direção. E então me dei conta! Gostaria de estar ali, não exatamente naquela cena de quadro, mas naquela época em Paris... Mas por quê? Será porque o ar parece puro... Sim! Sem poluição! Não há a mínima poluição na atmosfera, nas ruas, nos cachorrinhos vira-latas, nos homens, nas mulheres. Parece até o Paraíso! Tudo ali transpira alegria, descontração, saúde física e mental, contato prazeroso com o que nos cerca, bem-estar... Os Impressionistas não teriam hoje a chance de pintar a “pleno ar”.
Auguste Renoir, no início de sua carreira foi pintor de porcelana na famosa cidade de Limóges, sua cidade natal, na França. Começou muito cedo. Era o menor pintor de porcelana da fábrica, mas, seus superiores o respeitavam e o incumbiam de tarefas bem difíceis para qualquer um.
A experiência de pintar em porcelana, Renoir levou para seus quadros. Ele foi um grande retratista. Retratou crianças e mulheres, de forma delicada e sutil, salientando com muito talento o que as pessoas tinham de belo: as cores da pele, o rosado das crianças, a leveza dos tecidos...o olhar...
Em certo ponto de sua vida, Renoir começou a abandonar o Impressionismo, porque estava a procura da própria identidade artística. Isolado de todos, procurando a simplicidade da forma e a base do desenho, como os pintores mais antigos. Mas nunca abandonou completamente o Impressionismo, principalmente a palheta de cores claras e limpas.
Renoir passou muita dificuldade econômica. Posteriormente seu grande talento foi sendo reconhecido pela crítica severa da época e ele pode usufruir com familiares e amigos, alguma tranqüilidade.
Renoir durante a sua vida sofreu de pneumonias freqüentes. E foi uma dessas que o levou à morte.
Em 1891 mais ou menos, quando tinha cinquenta anos, Auguste Renoir começou a padecer de reumatismo nas mãos. Sabe-se hoje que se tratava de artrite reumatóide . Para um pintor é uma calamidade! Pode-se mesmo acompanhar a progressão de sua doença através de suas fotos. Mas assim mesmo não foi aí que ele parou de pintar; aos 71 anos de idade e as mãos já profundamente deformadas ele ainda foi capaz de completar mais de 400 obras de arte.
Auguste Renoir – 1841 − 1919.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Georges-Pierre Seurat – Neo Impressionista

Eis aqui outro pintor que morreu muito cedo, com 32 anos, de pneumonia. Este artista exerceu a arte da pintura por apenas 10 anos. Mas esse período foi tão intenso, tão denso, tão exaustivamente produtivo, que nenhum outro o igualou. Durante 10 anos Seurat, francês de nascimento, pintou dia e noite sem parar. Estava movido por aquela paixão que toma de assalto os grandes artistas, de qualquer área. Pintar creio eu, dessa forma, é como uma doença. Doença esta que permite que a alma de cada artista saia de si mesmo e se transforme em quadros.

Em momentos de trabalho em seu atelier Seurat não comia, não bebia e nem mesmo respondia perguntas que lhe faziam.

No princípio do século XX, muitas descobertas científicas estavam acontecendo, inclusive sobre cores e luzes. Seurat interessou-se muito por esses estudos. Trabalhou em seus desenhos e telas com todos os efeitos de luz: luz solar, luz artificial, luz modificada pelo ar, luz direta ou refletida. Luz que bate no objeto e cria clarões e luz que é absorvida. Na tela “Parada de Circo” (1887) ele usou luz artificial. Esse quadro, assim como outros, foi pintado com pequenos pontos superpostos, deixando entrever a luz, a claridade do fundo. Essa técnica é chamada Pontilhismo e é derivada do Impressionismo. Futuramente, Seurat vai modificando os pequenos pontos em traços paralelos e aliando a geometria, começou a estilizar figuras e a própria natureza. Sua obra mais conhecida chama-se “A serra na grande Jatte” (1888). Esse extraordinário pintor teve muitos seguidores, sendo o principal Paul Signac, que foi também um grande amigo.

Para identificarmos uma obra de Seurat é necessário primeiramente conhecer seus princípios. A maior parte de seus quadros não estão assinados, mas a luminosidade que transparece, além das pinceladas, não deixa dúvidas de sua autenticidade.

Georges-Pierre Seurat – 1859 – 1891.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Paul Gauguin – Homem estranho – Mestre inigualável

Quando eu era mocinha tive uma professora de francês, francesa. Madame Marie. Ela era terrível de tão exigente.

Certa vez madame Marie ficou doente. A casa dela ficava bem pertinho do ginásio. Nossa diretora pediu que eu e duas meninas fôssemos à casa da professora, buscar umas pastas, uns papéis. Lá fomos nós. Na saleta bem iluminada, pendurados nas paredes, vi uns quadros lindos! Eram gravuras coloridas, belíssimas! Perguntei para a professora de quem eram e ela simplesmente respondeu-me: “Gauguin”.

A sensação que senti contemplando as gravuras não sei descrever, mas foi uma coisa muito boa...

Dias depois madame Marie me entregou um livreto velhíssimo, dizendo para que eu cuidasse bem dele”. Era a história resumida da vida desse grande pintor francês, Paul Gauguin (7/6/1848 − 8/5/1903) Em cada folha havia a reprodução de uma tela de Gauguin e um texto explicativo... Mas tudo em francês! Peguei o dicionário e traduzi palavra por palavra. Quanto mais eu lia, mais gostava.

Quando Gauguin começou a desenhar e pintar, tinha mais de 20 anos. Foi paixão a primeira vista! A habilidade, o bom gosto, o olhar atento apareceram de supetão! Como se um vírus o tivesse contaminado!

De início Gauguin se entusiasmou com o impressionismo; quadros lindos dessa época povoam os museus (Rowen – A igreja Saint Ouen – 1884 e Ângulo de açude, 1885, etc.). Pouco a pouco, porém, foi modificando sua pintura. Apareceram as cores fortes, puras e os contornos bem acentuados (ao contrário do Impressionismo). E foi pintando, pintando num crescendo, sem parar. Gauguin era muito autêntico com os outros e consigo mesmo. Chegou a ser preso no Taiti onde viveu e morreu, por desacatar autoridades e o clero...

Gauguin sofreu todos os percalços. Falta de dinheiro, desavenças familiares, incompreensões com sua obra e a doença que o martirizava dia e noite. Havia machucado os pés e as feridas não cicatrizavam, causando muita dor. Mas mesmo sob estas condições adversas, produziu uma arte inigualável, este grande pintor solitário.

Aprendi muito com aquele livrinho tão velho, mas que me abriu perspectivas em outras direções.

Merci madame Marie!

Bonjour monsieur Gauguin

segunda-feira, 9 de julho de 2007

É verdade ou impressão?


Aconteceu certa vez uma coisa diferente comigo. Tinha então uns 15 a 16 anos. Estava sentada em frente a um lindo quadro num museu em São Paulo. Aproximaram-se algumas moças e rapazes tagarelas. Ficaram bem perto e consegui ouvir o que falavam. Pelo que percebi eram estudantes de arte e estavam ali aguardando um professor, que logo chegou. Trocaram cumprimentos e eles seguiram o velho mestre. Este se aproximou de uma tela grande, enorme, de Monet. Era uma exposição breve do artista. Por curiosidade me aproximei e ouvi o que dizia:

− Claude Monet é considerado o pai do Impressionismo. Vamos nos afastar um pouco. Seus quadros devem ser admirados a 1m50cm de distância, porque as cores da tela fazem um intercâmbio com a visão do observador e se complementam...O Impressionismo tem como base a captura da luz que se reflete nos objetos e que de momento a momento se modifica...no contorno e no colorido...

Naquele momento aconteceu que uma das mocinhas da turma deu pela minha presença. Vi quando cutucou uma outra. Olhou-me de cima a baixo, parecendo ofendida. Continuei no mesmo lugar. Queria ouvir o que o professor dizia...Mas ela aproximou-se mais de mim e disse:

− Essa reunião é particular...é uma aula. Olhei para ela e continuei tentando ouvir. Não satisfeita ela se dirigiu ao professor e falou-lhe baixinho no ouvido alguma coisa. Ele se voltou para mim e sorriu. Isso a desconcertou. Não olhou mais para a minha direção.

Segui o grupo até o final da aula. Estava tão interessada! No término da reunião ele distribuiu uns papéis. Chegando perto de mim, sorriu-me e entregou-me uma apostila também. Agradeci encabulada. Não esqueci esse fato. Admiro Monet. Adoro sua obra. Durante muito tempo tentei copiar seus quadros, suas cores claras e límpidas. Depois de um tempo percebi que não tinha gabarito para imitá-lo. Mas para trazê-lo sempre perto de mim, adotei a maneira como ele assinava o M de Monet e assim é o meu M até hoje.

M de Mundo

M de Mãe

M de Mar

M de Monet (14/11/1840 − 6/12/1926).

Pintei esta tela com tintas Acrilex.

sábado, 7 de julho de 2007

Virtuosismo – do olho à mão: Toulouse Lautrec


Um olhar perspicaz, rápido, profundo. A mão treinada e obediente. Assim é o resultado da obra de Henri Toulouse Lautrec. Morreu muito moço, aos 36 anos, mas deixou para a nossa alegria e prazer centenas de quadros, gravuras e desenhos.
Como desenhista Lautrec foi mesmo tão bom que até hoje nos causa espanto. Seus desenhos parecem fotografias instantâneas. O traço é vivo e forte, as feições das pessoas ligeiramente angulares e os cavalos galopam e as bailarinas sapateiam nas folhas dos álbuns, para sempre.
Desde criança T. Lautrec adorava desenhar. Seus primos e tios também. E a pintura era sempre o entretenimento preferido. Com o passar do tempo, Henri foi desenvolvendo o estilo que o caracterizaria: traços rápidos e precisos. Olhar agudo que captava a emoção e o momento.
Em Paris, no alvoroço dos anos finais de 1800, a cidade fervilhava e Lautrec captava com cartazes o borbulhar da vida noturna. E que lindos são esses cartazes! Paris era uma constante festa. E Lautrec o seu repórter!
Henri Toulouse Lautrec sofria de séria enfermidade que o obrigava a permanecer sempre fingindo estar bem, satisfeito, ok, porque não deixava transparecer seu interior infeliz e atormentado.
Você já ficou diante de um quadro de Lautrec?
Já sentiu aquela borrifada de vida e de alegria?
Era isso mesmo que ele desejou que ficasse de sua obra e de sua vida.
Este meu quadro foi pintado em tela Jamelli.